quinta-feira, 9 de setembro de 2010

São Carlos Borromeu e sua Pedagogia

Quando se fala de São Carlos Borromeu, da sua obra, faz-se, muitas vezes, referência à disciplina dos internatos, as Regras das Escolas da Doutrina Cristã. 1

“A Doutrina Cristã, coisa diviníssima”, exige trabalhadores “qualificados”, isto é: primeiro, ”deveriam ser de certo modo luz do mundo”; segundo, “nesse amor para com Deus ser especialistas e por ele acesos, inflamados”; terceiro, “é necessário que tenham grande zelo pela salvação das almas remidas pelo precioso sangue de nosso Salvador Jesus Cristo”; quarto, “é preciso que tenham ardente caridade para com os próximos”; quinto, “com a mesma caridade com a qual recebem e ensinam aqueles que vêm às suas escolas para aprender, façam todos os esforços possíveis para atrair também aqueles que não vêm”; sexto, “devem os irmãos saber muito bem as coisas que ensinam aos outros”; sétimo, “é muito necessário ter paciência”; oitavo, “devem ter necessário que tenham muito cuidado e solicitude em procurar manter e fazer crescer a cada dia uma obra de tanta importância como esta” 2

Para conseguir essa qualidade “devem prepara-se para receber de Deus a graça de dedicar-se com sacrifício a esse trabalho, e buscar para tanto os meio necessários”. 3 São indicados seis: “purificar a consciência com o sacramento da Penitência, começando com a confissão geral”, “a freqüência ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia”, “a oração mental e vocal”, “o exercício das obras de misericórdia”,
“a obediência que todos devem ter aos seus Superiores, tanto os de toda Companhia quanto para os de cada escola, “finalmente o bom exemplo”. 4

Em cada escola é necessário que haja ao menos um sacerdote que seja “pai espiritual”, ordinariamente o pároco. Ele, além de possuir as qualidades sacerdotais específicas (ciência, pureza de vida, honestidade de costumes, exemplaridade), “precisa ainda que, sendo pai espiritual de todos os de sua escola, tenha grande amor e afeição por todos da Companhia, e em particular pelos de sua escola”, procurando conhecê-los pessoalmente, confessando- os, interessando-se pelas suas necessidades corporais e espirituais, promovendo a concórdia, visitando as escolas, apascentando-os com a palavra de Deus. 5

Decisiva é a função dos professores e dos coordenadores, “porque todas as obrigações e ordens são dadas para que os alunos sejam bem instruídos na Doutrina Cristã, nas virtudes e bons costumes”. Para eles, mais que para outros, há termos que valem a relações inspiradas na caridade e na amorevolezza. 6
Os professores “devem ser solícitos em chegar cedo à escola, fazendo de tal modo que eles esperem os alunos e não o contrário (...). Sendo os alunos a ele confiados pelo coordenador, com caridade, amorevolezza e mansidão ele os receba, mostrando para com eles afeto e amor paterno (...). Tenha cuidado de ensinar a seus alunos não somente a lição do livro, mas muito mais os instruirá nas virtudes e bons costumes, fazendo com que lhes é ensinado, seja também praticado (...). Tenha sempre em mente torná-los bons e perfeitos cristãos, dando-lhes todos os avisos, lembranças, e meios, que Deus Nosso Senhor se dignar apresentar-lhes”. 7

O método preventivo forma um todo único com o “sistema”. Isso exige no professor clareza de fins, conhecimento dos alunos, supremacia do amor sobre o temor, testemunho. Na aula de catecismo não se deve simplesmente ensinar os elementos da doutrina cristã, mas introduzir na “arte de viver cristã”.

Ensine-lhe, finalmente, todas as outras coisas que convêm a bons cristãos e a promessa que fazem de preparar o verdadeiro viver cristão, para conservar-se sempre na graça de Deus e seus filhos adotivos. Fique atento em ensinar-lhes modos decentes, evitando falar-lhes palavras injuriosas e menos ainda desonestas e grosseiras, quer porque não convém em tais escolas usá-las, quer para que eles não aprendam e não se arrogem o direito de dizê-las aos outros. E que ainda que seja necessário às vezes repreende-los com palavras dura, é, todavia mias oportuno que esta lei e doutrina de amor seja apresentada com amor e não com temor; e será melhor com promessas de prêmios do que com ameaças, com dons do que com castigos. O professor deve ter dos seus alunos conhecimento suficiente, não só em ver como aprendem enquanto estão na escola, mas ainda, às vezes, se estudam a lição também em casa; conheça seus pais e saiba onde moram, para poder informar-se como procedem e que vida levam; e se às vezes faltassem, visite-os e se informe com os familiares por que não freqüentam a escola, faça tudo isso com habilidade e de tal modo que mostre não curiosidade, mas amor paterno para com eles e vivo interesse pelo seu bem.8


1-Cf.“Contitutione ET Regole della compagnia et scuole della douttrina chistiana fatte cardinale di Santa Prassede, arcivesco, in essecutione Del concilio secondo provinciale (1569), per uso della província de Milano”. In: Acta Ecclesieae Madiolanensis. Vol. III, t. II, col. 149-261 (Ed. De G. Fontana Milão, 1585)
2-“Constitutioni”, col. 149-151.
3-“Constitutioni”, col. 152.
4-“Constitutioni”, col. 152-162.
5-“Constitutioni”, cap III, “Dell’ officio Del sacerdote”, col. 162-165.
6-“Constitutioni”, col. 179.
7-“Constitutioni”, col. 181-182.
8- “Constitutioni”, col. 182-183.