sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dos Dez aos Quatorze anos

Nesta idade opera-se no jovem um notável desenvolvimento físico e moral, que a mãe deve ter em conta, para sair-se bem na obra da educação dos filhos.

Quanto à inteligencia, compreendem mais do que seria conveniente. São muitos observadores; tiram conclusões e fazem seus próprios raciocínios.

Seu coração começa a sentir os estímulos de muitas paixões. São propensos à ira e à vingança: por vezes até arrogantes.

Sua vontade tende cada dia mais à independência; começam sentir vergonha de estarem ainda sujeitos aos pais; amam a liberdade, gostam de fazer observações e de valer suas razões.

Os caracteres da criança nesta idade são: um desamor progressivo à casa, dificuldade na obediência, grande desejo de sair à rua, amor aos divertimentos, pouca vontade de estudar, de trabalhar, de rezar, repulsa por tudo aquilo que exige esforço.

Os defeitos dos primeiros anos a saber, a gula e a mentira, não desaparecem, mas são até superados por outros mais graves.

O desamor à família manifesta-se na falta de carinho para com os avós, no aborrecimento por se achar em casa, especialmente com os pais; em negar-se a sair acompanhados por eles, e se isso acontece, fazem-no com grande sacrifício, dir-se-ia até, com vergonha.

E as meninas? Elas também por seu lado, tem seus defeitos característicos: ambições, preguiça, vontade de se divertir.

Ambições: começam por desejar aparecer; observam as amigas e não querem ser menos do que elas. Que lhes importa se o pai ou a mãe não estão em condições de lhes satisfazer os caprichos? A companheira, a amiga andam bem vestidas, e assim elas se querem vestir também. E muitas não atendem às razões e se as contrariam, pensam em vingança e tudo fazem para se demonstrar despeitadas.

Qual é o dever dos pais diante desse proceder dos filhos? Antes de tudo é necessário o acordo mútuo no que se refere à educação que se lhes há de dar. São desastrosos os efeitos que resultam da falta de união de vistas no método educativo.

Quando as autoridades se dividem, perdem sua força moral. A criança percebe e por sua vez perdera confiança na bondade moral, daquilo que se lhe manda.

Depois disto o mais importante é a vigilância e a oração: vigilância enquanto os filhos permanecem no seio da família: vigilância sobre as companhias que frequentam: sobre os livros que lêem: sobre os divertimentos...

A mãe deve seguir o filho como a sombra segue o corpo. Deve inspirar-lhe horror à mentira, habituando-os a ser sinceros; o amor à casa, proporcionando-lhes diversões sadias e honestas, que auxiliem o seu bem estar físico e moral. Fazê-los compreender o absurdo de certas ambições e inculcar-lhes que a beleza digna de ser desejada e ambicionada é a da alma, isto é, adornar-se o coração de virtudes.

E principalmente a oração. Uma mãe que tem fé sólida há de entregar a Deus seus filhos, há de colocá-los com toda a confiança debaixo da proteção da Santíssima Virgem; se assim o fizer é impossível que não seja ouvida. Mas não basta a oração da mãe: é preciso que também ensine a criança a rezar e a frequentar os Sacramentos. E isto, não com gritos e repreensões, mas com amor e discrição, observando o tempo e o modo mais oportuno.

Pe. Humberto Gaspardo-Maternidade Cristã ed paulinas 1947.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Santo Tríduo Pascal e a Indulgência Plenária

Durante o santo Tríduo Pascal podemos ganhar para nós ou para os defuntos o dom da Indulgência Plenária se realizarmos algumas das seguintes obra estabelecidas pela Santa Sé.

Obras que gozam do dom da indulgência pascal:

Quinta-feira Santa

1. Se durante a solene reserva do Santíssimo, que segue à Missa da Ceia do Senhor, recitamos ou cantamos o hino eucarístico "Tantum Ergo" ("Adoremos Prostrados").

2. Se visitarmos pelo espaço de meia hora o Santíssimo Sacramento reservado no Monumento para adorá-lo.

Sexta-feira Santa

1. Se na Sexta-feira Santa assistirmos piedosamente à Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo

1. Se rezarmos juntos a reza do Santo Rosário.

Vigília Pascal

1. Se assistirmos à celebração da Vigília Pascal (Sábado Santo de noite) e nela renovamos as promessas de nosso Santo Batismo.

Condições:

Para ganhar a Indulgência Plenária além de ter realizado a obra enriquecida se requer o cumprimento das seguintes condições:

A. Exclusão de todo afeto para qualquer pecado, inclusive venial.

B. Confissão sacramental, Comunhão eucarística e Oração pelas intenções do Sumo Pontífice. Estas três condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária; mas convém que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

É oportuno assinalar que com uma só confissão sacramental podemos ganhar várias indulgências. Convém, não obstante, que se receba freqüentemente a graça do sacramento da Penitência, para aprofundar na conversão e na pureza de coração. Por outro lado, com uma só comunhão eucarística e uma só oração pelas intenções do Santo Padre só se ganha uma Indulgência Plenária.

A condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice se cumpre rezando-se em sua intenção um Pai Nosso e Ave-Maria; mas se concede a cada fiel cristão a faculdade de rezar qualquer outra fórmula, segundo sua piedade e devoção.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um prodigioso esquecimento

Eram duros os tempos das primeiras missões evangelizadoras da América do Norte. Muitos habitantes daquelas terras não conheciam a Religião de Cristo e os apóstolos eram em número insuficiente para levar a todas as almas a verdadeira Fé. “A messe é grande, mas os operários são poucos” (Mt 9, 37), diz a Escritura. Mas, gradualmente, com o auxílio da graça, a Santa Igreja ia-se estabelecendo naquelas vastidões territoriais, como a gota de azeite se espalha silenciosamente pela folha de papel.

No povoado de Santa Maria dos Anjos, onde já todos eram católicos fervorosos, exercia seu fecundo apostolado o padre Jorge. Levantava-se de madrugada, passava uma hora de adoração a Jesus Hóstia e em seguida celebrava a Santa Missa. Hauria, assim, as forças para a labuta de cada dia. Cuidava da catequese das crianças e dos adultos, dirigia a escola e o hospital local, administrava os sacramentos, visitava os enfermos de toda a região.

Certo dia, chamaram-no para atender um doente em estado grave, que morava bem longe do povoado. O Sol já estava baixando, não tardaria a anoitecer. O pároco aprontou-se rapidamente, pegou os Santos Óleos para a Unção dos Enfermos e preparou tudo para levar o Santo Viático.

Valério, o sacristão, ofereceu-se para acompanhá-lo, pois a viagem era longa e não isenta de perigos, mas o sacerdote achou melhor que ele ficasse, para cuidar da igreja. Ele então selou o cavalo e ajudou o padre Jorge a montar, já com o Santíssimo Sacramento numa pequena teca, que levava dependurada ao pescoço, dentro de uma delicada bolsa.

Fustigando a montaria para acelerar a marcha, o pároco percorreu em pouco tempo vários quilômetros. Mas… aconteceu o inesperado: desabou um forte temporal, as escuras nuvens e o aguaceiro toldavam as últimas réstias de luz do Sol que ainda iluminavam aquela estrada cheia de acidentes e obstáculos. E o padre viu-se obrigado a parar numa pequena hospedaria, muito simples, mas limpa e ordenada.

Curiosamente, ali se abrigara, forçado também pela tempestade, um mensageiro do enfermo, enviado para comunicar-lhe que este dava sinais de recuperação e, portanto, já não era tão urgente a ida do sacerdote.

Tranquilizado por essa notícia, o padre Jorge tomou essa coincidência como um sinal da Providência e decidiu pernoitar ali, para não expor o Santíssimo Sacramento aos numerosos riscos de uma viagem sob a borrasca.

Ocupou um quarto no segundo andar, onde preparou da melhor forma possível um pequeno armário para servir de tabernáculo. Nele depositou a Sagrada Hóstia, pôs-se de joelhos e rezou durante algum tempo, depois trancou a porta e desceu para o refeitório, onde já estava servido o jantar.

Ali foi informado, em conversa com outros hóspedes, que o dono do hotel e sua família eram pagãos. Por prudência, evitou tudo quanto pudesse revelar que ele levava consigo Nosso Senhor Sacramentado e, terminada a refeição, recolheu-se sem demora ao seu quarto-capela, preparandose para partir cedinho no dia seguinte.

Quando raiou o Sol, estava já ele a cavalo, para reiniciar sua viagem.

No meio do caminho, levou instintivamente a mão ao peito para sentir a presença do Santíssimo Sacramento e percebeu que a preciosa teca não estava aí! Encomendando-se à Santíssima Virgem, fez meia-volta, esporeou o animal e partiu de volta a todo galope.

Cruzando o portal da hospedaria, o padre Jorge saltou da cavalgadura e correu à procura do hoteleiro:

- Senhor, desculpe, mas alguém mais ocupou o quarto em que pernoitei?

Surpreso, ele lhe respondeu:

- Não, senhor padre. E que bom o senhor ter voltado, porque, desde a sua partida, fizemos de tudo para abrir a porta daquele quarto e não conseguimos. O que fez o senhor para deixar a chave emperrada na fechadura de maneira que ninguém consegue girá-la?

Impressionado, o sacerdote disse:

O piedoso sacerdote foi invadido por uma grande alegria: essa luz
só podia ser fruto de um milagre

- Nada. Apenas deixei lá a chave…

- É, mas além de não conseguirmos abrir a porta, vê-se pelas frestas que o quarto está iluminado por uma luz desconhecida. O senhor deixou alguma vela acesa ali?

O piedoso sacerdote, que já tinha passado da terrível apreensão para a tranquilidade, foi invadido por uma grande alegria: essa luz só podia ser fruto de um milagre. Teriam os Anjos do Céu vindo fazer companhia a Jesus Sacramentando, protegendo-O de qualquer sacrilégio ou mesmo de simples irreverências?

- Vamos lá. Vou tentar abrir a porta.

E subiu rapidamente as escadas. O hoteleiro seguiu atrás, acompanhado da esposa, dos filhos, dos criados e até de vários hóspedes, todos desejosos de desvendar aquele mistério.

Lá chegando, padre Jorge girou a chave e abriu a porta com toda facilidade. Imaginem sua emoção ao ver que daquele armário – o tabernáculo por ele improvisado – saía uma luz celestial, enquanto músicas angelicais se faziam ouvir dentro do quarto.

Pondo-se de joelhos, adorou, comovido ao extremo, o Rei dos reis que quis manifestar-Se daquela maneira para atrair mais almas a Seu Sacratíssimo Coração Eucarístico.

Em seguida, explicou a todos o que se passara. Entre atônitos e maravilhados, foram-se ajoelhando um a um… Agora nenhum deles duvidava da Presença Real de Jesus na Eucaristia! O hoteleiro pediu para receber o Batismo, junto com toda a sua família.

O padre Jorge não podia abandonar essas almas que o próprio Senhor conquistara por meio de tão prodigioso fato! Passou, pois, alguns dias no hotel, ensinando-lhes as belezas e as verdades da Fé Católica. Durante esse tempo, a Sagrada Eucaristia permaneceu no seu precário tabernáculo, recebendo a adoração do hoteleiro, de sua família e de vários habitantes da região. Muitos destes também se converteram, de modo que o padre Jorge teve a alegria de ministrar o Batismo a uma pequena multidão de novos filhos da Santa Igreja.

Por fim, foi à casa do enfermo que, uma semana antes, havia solicitado sua assistência, e o encontrou já curado.

O Senhor quis, Ele mesmo, operar prodígios em favor de sua messe!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Deus ama quem dá com alegria

O coração de dona Etelvina era muito generoso. Apesar de ser pobre, a boa senhora sempre ajudava a todos os necessitados que fossem pedir-lhe uma esmola, em nome de Deus. Seu esposo, o senhor Antônio, era um honrado motorista, muito trabalhador, mas seu salário era o modesto valor que recebia pelo frete feito para os moradores da pequena vila de São Pedro do Leste. O que ganhava era apenas suficiente para sustentar a esposa e a filha, Margarida.

Não obstante, apoiava os pródigos gestos de sua mulher. E nunca faltava nada naquele humilde lar!

Tudo isso se devia à piedade do casal que, sem deixar de confiar na Providência Divina, era dadivoso para com aqueles que necessitavam ainda mais do que eles. Jamais abandonavam a frequência aos Sacramentos, pois sabiam que estes e a oração eram seu sustento e sua força.

Porém, o tempo passava e a pequena Margarida foi crescendo. Apesar do bom exemplo de seus pais, a menina era caprichosa, vaidosa e muito egoísta. Quando ia brincar com as amiguinhas da vizinhança, invariavelmente era a que deveria ganhar em todos os jogos, e tinha que ser o centro das atenções. Em nada imitava a humildade e a generosidade dos pais.

Quando completou sete anos, sua madrinha, senhora de certas posses, deu-lhe de presente uma linda boneca, com olhos de vidro e um vestido de princesa. A menina ficou encantada! Logo foi mostrá-la às companheiras. Mas em vez de deixar que cada uma a pegasse nas mãos, acariciasse e embalasse, cheia de apego, nem permitiu que tocassem no seu novo brinquedo, voltando para casa com muita arrogância!

A mãe se preocupava com a filha, pois via que estava andando por um caminho bem perigoso e, se continuasse assim, seria uma pessoa muito infeliz e perderia a amizade de Deus. Por isso, pedia muito à Santíssima Virgem por ela. E sempre lhe dava bons conselhos:

Filhinha, devemos pensar que assim como Jesus é generoso conosco, devemos ser com os outros. Se você ganhou esta linda boneca, é para que possa brincar junto com suas amigas. Nada temos que não tenha vindo da bondade de Deus. Não seja egoísta!

A menina escutava atenta, mas logo esquecia os bons conselhos da mãe…

Algum tempo depois, começaram as aulas preparatórias para sua Primeira Comunhão. Margarida ouvia com interesse a catequista contar os milagres de Jesus, como Ele havia curado enfermos, ajudado aos mais necessitados e como era generoso para com todos. Seu pequeno coração foi sendo tocado pela graça e começou a fazer um exame de consciência de como andava mal com suas atitudes egoístas e caprichosas…

Já na véspera do grande dia, antes mesmo da primeira Confissão, as crianças da catequese tiveram uma Missa preparatória para a mesma. E, em uma das leituras, a menina escutou: “Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama quem dá com alegria” (II Cor 9, 7). Aquelas palavras entraram como um raio de fogo em seu coração! Queria ser ela também amada por Deus… Queria sentir a alegria de dar!

Terminada a Santa Missa, na porta da igreja, Margarida encontrouse com um mendigo. A aldeia era pequena e todos se conheciam, mas aquele infeliz maltrapilho lhe era totalmente desconhecido. O homem pedia uma esmola, por amor a Deus. Diante de tal súplica, Margarida sentiu-se tocada, pois ainda ressoavam em sua alma as palavras que acabara de ouvir: “Deus ama quem dá com alegria”…

Margarida levava sempre em seu pescoço uma correntinha com uma pequena cruz de prata, presente da madrinha, em seu Batismo. Era o objeto pelo qual mais tinha apreço. Sem titubear e sentindo pela primeira vez a alegria de dar, a menina tirou o estimado objeto e o deu ao pobre homem. Este olhou-a com extremo afeto e gratidão, e lhe disse:

Que Deus lhe pague e recompense!

Tomada de uma rara felicidade, a menina voltou para casa correndo e contou o fato à mãe que, em lágrimas, abraçou a filha, dizendo-lhe:

Pois saiba que esta foi a melhor preparação que você poderia ter feito para receber Jesus, no Santíssimo Sacramento!

Naquela noite, Margarida teve um sonho. Neste, Jesus lhe aparecia com sua cruzinha de prata nas mãos, adornada com as mais belas pedras preciosas. E, sorrindo, lhe perguntava:

- Conheces este objeto?

Ela Lhe respondia que sim, mas que não era tão linda como estava agora…

Jesus, então, lhe dizia:

Ontem tu a deste a um mendigo desconhecido, e a virtude da caridade a tornou mais bela! Esse mendigo era Eu! Prometo-te que, no dia do Juízo, em presença dos Anjos e dos homens, mostrarei esta pequena cruz para que tua glória seja eterna.

Na manhã seguinte, a menina aproximou-se do confessionário, completamente transformada. Depois de limpar sua alma dos caprichos e egoísmos, pôde receber Jesus na Eucaristia, com muita consolação e compreendendo o quanto é verdade que “Deus ama quem dá com alegria”.

E a exemplo de seus bons pais, levou uma vida santa, sendo generosa para com todos, sobretudo para com Nosso Senhor Jesus Cristo, deixando- se levar pela graça e por Seus desígnios, confiante na promessa que Ele lhe havia feito naquele inesquecível sonho!