segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Procurava emprego, encontrou uma mãe. Autora: Elizabeth MacDonald

Quando Jeanne-Marie saiu do hospital, sentia-se só, abandonada e sem apoio. Como único patrimônio, restava-lhe no bolso uma moeda de um franco.

Nenhum ruído externo, porém, era capaz de arrancar de suas profundas reflexões uma moça de aspecto humilde e testa franzida, que caminhava com passo resoluto.

A jovem Jeanne-Marie, nascida num vilarejo da Bretanha, fora educada por seus pais no santo temor de Deus. Sua modesta condição a obrigara, quando ainda muito nova, a buscar emprego junto a uma rica família.

Desde a infância, tinha ela o piedoso costume de mandar celebrar todo mês uma Missa em sufrágio das almas do purgatório. Devendo abandonar sua vila natal para acompanhar seus patrões que se mudavam para a capital francesa, manteve-se fiel a esse ato de caridade, e assistia ela mesma ao Santo Sacrifício, durante o qual unia suas orações às do sacerdote, pedindo especialmente em favor daquela alma cuja libertação dependesse apenas de uma última prece.

Algum tempo depois de estabelecer- se em Paris, foi acometida por uma grave enfermidade que não só esgotou suas forças físicas, como lhe fez perder o emprego e consumiu todas as suas economias.

Quando, finalmente, saiu do hospital, sentia-se só, abandonada e sem apoio. Como único patrimônio, restava- lhe no bolso uma moeda de um franco. Possuía, entretanto, algo mais valioso que todo o ouro do mundo: a confiança em Deus e em Nossa Senhora.

Após uma fervorosa oração, dirigiu-se apressadamente a uma agência de emprego. Ao passar em frente à Igreja de Santo Eustáquio, algo a impeliu a entrar. O ambiente elevado, o som do órgão, a tênue luz que penetrava através dos vitrais, revestindo tudo de uma feeria de cores, encheram-na de paz e lhe fizeram esquecer por um momento sua dramática situação.

À vista de um sacerdote que se preparava para celebrar num dos altares laterais, lembrou-se de que naquele mês não havia mandado rezar a costumeira Missa pelas almas do purgatório.

Sempre lhe custara certo esforço reunir algumas moedas para a espórtula, mas hoje isto constituía um verdadeiro sacrifício… entregar o último franco que lhe restava equivalia a não ter mesmo com que saciar a fome naquele dia. A luta interior entre a devoção e a prudência humana foi de curta duração: logo venceu a primeira, pois Jeanne-Marie era pobre dos bens desta terra mas rica de amor de Deus.

Com a firme convicção de que Aquele que disse: “Olhai para as aves do céu que não semeiam, nem ceifam, nem fazem provisões nos celeiros” (Mt 6,26), não a desampararia, dirigiu- se à sacristia e, como a viúva pobre do Evangelho, entregou sua última moeda de um franco, solicitando que aquela Missa fosse celebrada na intenção de suas queridas almas do purgatório. Depois de assistir com muita devoção ao Santo Sacrifício, pôs-se novamente a caminho.

Sentia-se mais leve, não pelo vazio de seu bolso… mas porque, desprovida de todo recurso humano, abandonara- se exclusivamente ao beneplácito da Divina Providência. Seu coração, este sim, estava cheio. Cheio de uma nova confiança que sobrepujava certa ansiosa inquietude com relação ao futuro: qual seria seu destino? Caminhava mergulhada nesses pensamentos quando uma voz a interrompeu:

- Estás à procura de um emprego?

- Sim, senhor – respondeu, surpresa e com uma estranha sensação de estar em outro mundo…

- Pois bem, vai à Rua Tivoli nº 48 e fala com a Sra. Zélia. Ela está precisando de uma empregada e te receberá com bondade.

Não foi difícil achar a casa indicada. Chegou justamente no momento em que saía uma moça, resmungando, com um pacote embaixo do braço. Jeanne-Marie lhe perguntou se a dona da casa se encontrava.

- Talvez sim, talvez não! Não me interessa! Ela abrirá a porta se quiser. Não tenho mais nada a ver com isso! – respondeu ela sem se deter. Com mão temerosa, nossa pobre jovem tocou a sineta. Seu medo, porém, logo se dissipou ao ouvir uma voz doce chamando-a para entrar. Ao deparar-se com uma venerável senhora, de olhar bondoso, tomada de coragem, ela lhe expôs o motivo de sua visita:

- Soube que a senhora necessita de uma empregada e vim oferecer-me, pois me asseguraram que aqui seria recebida com bondade.

- Minha cara jovem, o que acabas de me dizer é extraordinário! Hoje pela manhã eu absolutamente não precisava de ninguém. Mas há cerca de uma hora tive de despedir uma insolente empregada, e ninguém no mundo, salvo ela e eu, sabe disso. Quem, pois, te envia?

- Foi um senhor ainda jovem que me parou na rua e me deu essa informação. E estou muito agradecida a Deus e a ele, pois necessito conseguir um emprego ainda hoje, já que não possuo mais um centavo sequer…

A distinta dama permanecia pensativa, não podendo compreender quem seria esse estranho personagem. Jeanne-Marie, erguendo casualmente os olhos, viu um quadro na parede e exclamou:

- É este o homem que me encaminhou para cá! Venho da parte dele!

Ao ouvir estas palavras, Da. Zélia soltou um grito e esteve a ponto de desmaiar. Pediu que a moça lhe contasse como fora o encontro com ele na rua. Ela narrou com simplicidade seu costume de socorrer as almas do purgatório, a Missa que mandara celebrar havia pouco e, por fim, o episódio do encontro com o jovem que se mostrava radiante de felicidade, logo ao sair da igreja. A nobre senhora ouviu tudo com atenção e, no final, disse emocionada:

- Não serás minha empregada, considero-te como filha! Este é meu filho… meu único filho, morto há dois anos, que deve a ti sua libertação das penas do purgatório. Em recompensa de tua generosidade, Deus lhe permitiu enviar-te aqui. Que Deus te abençoe! A partir de agora, rezaremos juntas por todos os que sofrem no lugar de purificação e dependem de uma prece para entrar na bem-aventurança eterna.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Formação do caráter dos dois aos seis anos.

"Também nesta idade o coração é capaz de receber uma educação especial. O pai que trabalha todo o dia para a criança e a mãe que desde cedo até a noite desvela-se por ela, é um poderoso argumento que certamente há de impressionar o terno coração do filho e o levará à gratidão.

Este é o tempo de se destruir o egoísmo. É bom que a criança se mostre de bom coração com seus amigos especialmente os mais pobres. Acostume-se em tempo que ela mesma dê esmola aos pobres, quando lhe baterem à porta. Desta maneira sentirá compaixão para com os infelizes e gratidão para com seus pais que lhe dão o necessário.

Nesta idade, também o sentimento religioso é capaz de educação. A criança prende-se muito ao que vê. É preciso que veja bons exemplos. As orações breves reza-se de boa vontade, de manhã e de noite; mas a criança há de ser convidada a rezá-las com bons modos, escolhendo-se o momento oportuno, não a despertando repentinamente, ou interrompendo à força seus brinquedos, ou ainda repreendendo-a; desta maneira não rezará de boa vontade e além disso, a oração tornar-se-á antipática, é preciso agir de modo que ela se torne agradável e desejada.

Passemos agora a mostrar alguns dos defeitos mais salientes da criança. Convém saber porque elas choram. As crianças choram com muita facilidade. Se o motivo é razoável. agir-se-á de acordo com o que o caso exige. Mas se choram simplesmente por capricho, porque se lhes nega o que pedem, então convém não se fazer caso da sua manhã, e deixá-la a si mesma, é o melhor modo para que se cale. A mãe que se apieda de seu choro, comete um grave erro pedagógico, porque a criança aprenderá a dominá-la, sempre por meio de suas lágrimas e acabará vencendo-a. Desta maneira nunca aprenderá a domar sua própria vontade contra a tirania de todos os seus caprichos.

Muitos filhos, se nunca levam a termo seus projetos pode lhes faltar a perseverança, devem aos seus pais essa desgraça e terão que repetir amargamente: Ah! se meus pais não me tivessem minado tanto!

Os pais devem andar de acordo na educação dos filhos. Se o pai, ao entrar em casa, encontra o filho chorando e nota que a mãe vai acariciar, deixe-o chorar, não se mostre compassivo. A criança vendo que o pai e mãe procedem do mesmo modo há de se calar mais facilmente. Se o marido ou a mulher se tivessem enganado, não devem corrigir ao outro na presença da criança. Um ou outro perderiam a autoridade, e a criança estaria do lado que lhe dá razão e sentiria menos afeto em seu coração por esse motivo, para com aquele que a contraria em todos os seus caprichos.
Se o marido notasse alguma coisa digna de recriminação em sua mulher, não derevá repreende-la diante de todos, mas quando se encontrarem sozinhos de todos.

No fazer a vontade das crianças e no corrigi-las os avós muitas vezes, para não dizermos sempre, impedem a ação educadora dos pias. Os avós tem muitas fraquezas para com os netinhos, mas para o bem deles, devem refrear esse carinho exterior e secundar a obra dos pais. E o mesmo se há de dizer das tias e dos demais membros da família..."

Padre Gaspardo Humberto - Maternidade Cristã - Ed Paulinas, 1947.