quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A sala de aula enquanto espaço de ensino

Sabemos através da Antropologia que, em todas as culturas e civilizações, o homem se comunicava por meio de signos, não necessariamente escritos. Esses sinais carregam determinadas informações, das quais, desde muito cedo, aprendemos a abstrair seus conceitos.

Muito se discute sobre a indisciplina na sala de aula e a falta de respeito e de consideração existente ante a figura do professor. Porém, a influência dos sinais de autoridade nessa questão é pouco considerada. O seguinte exemplo demonstra claramente o que eu gostaria de chamar de fatores externos, que não são a única causa do problema, mas muito colaboram no que acontece em nível interno.

Tenhamos em mente o seguinte: um agente de trânsito de uma grande cidade tem a tarefa de controlar o tráfego em uma via de grande movimento. Suponhamos que tal agente se apresente nessa via desprovido de todos os seus distintivos e do seu uniforme. Sem até mesmo o seu apito e o posto elevado, que o facilita ser visto pelos veículos e pedestres. Para cumprir sua missão, o agente começa a gesticular e a falar alto, tentando organizar o intenso fluxo de veículos e de pedestres. Mas, desprovido de qualquer signo de autoridade, o guarda de trânsito é apenas mais uma pessoa entre as outras que passam. Por mais que ele tente se comunicar, ele se mantém incompreendido e, muitas vezes até, nem é notado. Através dessa cena, podemos nos transportar para a sala de aula, pois em muito a atitude dos alunos se aproxima à dos motoristas da via, que passam pelo agente sem respeitar ou obedecer às suas ordens.

O professor hoje parece que está totalmente desprovido dos seus signos de autoridade, sendo entendido como apenas mais um que gesticula e dá ordens. Poucos são os que, através de muito esforço, quando não por gritos e outras atitudes exaltadas, conseguem ter algum controle sobre a massa de alunos existente em uma sala de aula. Vendo um pouco as condições externas do meio de trabalho, em particular o espaço físico da sala de aula, que parece ter um papel tão secundário, gostaria de fazer uma análise mais aprofundada.

Constata-se que a sala de aula hoje é um espaço muito mal planejado quando se pensa no professor. A mesa daquele que deveria ocupar o centro e ser a base de toda a aula fica em um canto, como que escondido. O professor parece acanhado em um mundo do qual somente os alunos interessados se aproximam, driblando o resto da classe que está em um mundo à parte. Também, estar no mesmo nível que os alunos, além de ser um problema de visibilidade e, até mesmo, de acústica, pois a projeção da voz daquele que fala é dificultada, é um exemplo da falta de mais um signo de autoridade. O diálogo com o aluno, erroneamente, acaba se dando ao mesmo nível, em pé de igualdade.

Mesmo não sendo o espaço físico que define plenamente os problemas, este é mais um elemento que colabora para a situação. Esses sinais são abstraídos e entendidos, sem que haja a necessidade de maiores definições. É importante ressaltar que não me proponho a negar que deva existir um diálogo salutar entre professor e aluno. Apenas afirmo que esse diálogo jamais deverá se dar ao mesmo nível, pois o professor e mestre é o detentor do conhecimento e aquele que o deve transmitir, de forma compressível e caridosa, ao aluno.

Mesmo parecendo um detalhe, em muito o espaço físico colabora para a indisciplina e a falta de atenção dos alunos. Estes mal conseguem ver o professor e, muitas vezes, entendem que ele não só está no mesmo nível que o seu, mas em um inferior. Não significa que essa é uma questão de querer amedrontar o aluno ou criar nele algum complexo de inferioridade e de inibição diante do professor, mas colocar os pares dentro dos devidos e merecidos lugares, para que o aluno possa exercer seu papel e o professor, o dele.

Outro ponto é à disposição das carteiras na sala de aula. Comumente elas não estão fixadas ao chão, encontrando-se bagunçadas e desalinhadas, o que impossibilita a circulação do professor na sala ou sua percepção de qualquer ponto de desordem. Aplicando o princípio de que da ordem não se pode vir à ordem, é absolutamente impossível ter uma aula organizada e produtiva. Em um ambiente em que não se encontram bem alinhados e dispostos aqueles que vão para aprender, se a ordem fosse algo tão secundário como muitos querem afirmar, ela não seria um dos primeiros pressupostos para a identificação de uma civilização avançada.

Deixar os alunos irresponsavelmente livres para se movimentarem e disporem da sala tal como lhes parece ser agradável, é uma liberdade com a qual a condição deles não condiz. Tal circunstância seria o mesmo que fosse normal qualquer pessoa interferir no trânsito conforme sua vontade. O professor enquanto autoridade deve ser o ordenador e mantenedor da ordem, primeiramente ao nível físico e, depois, ao nível do saber. É fato que uma aula tem muito mais aproveitamento quando os alunos estão devidamente colocados em lugares fixos e prontos para começarem a aula, pois é próprio do homem que, para ordenar seus pensamentos, lhe é necessário um espaço que favoreça isso.

Outro ponto importante, mas que é ignorado é à entrada do professor na sala, primeiro que ele chega como sendo mais um em um momento em que geralmente os alunos estão agitados, o professor não é notado e não é destacado com dizeres de que “chega” começou a aula, não existe esse momento tão importante onde os alunos esperariam o professor como sendo também um momento de transição, do mundo da brincadeira e do recreio para o momento de estudo e da aula, a agitação continua tomando conta da sala, e o professor só é percebido por alguns no final da aula. Por isso é um remédio estabelecer um momento de silencio que conhecida, de preferência com a entrada do professor, para que principalmente a criança ou adolescente compreenda de forma clara que a aula não é recreio. E outras relações se iniciaram naquele momento diferente das mantidas com os demais alunos e colegas.

A sala de aula é o espaço de trabalho do professor. Ela não é a principal causa ou solução de todos os problemas, mas é sim fator importantíssimo, signo da autoridade, daquele que deverá ser obedecido e de quem vem o conhecimento a ser obtido pelos alunos que, na função de aprendizes, devem saber ter respeito e humildade. Porém, quando isso não lhes é imposto de forma simbólica, parece que há uma maior dificuldade de entendimento dessa relação. Em outros casos, as salas de aula dispostas em um estilo mais tradicional parecem ser o lugar adequado para haver um verdadeiro diálogo e aulas proveitosas para ambas as partes.

Não é por serem tradicionais que a aula deva ser transformada em algo medonho, em que se pressupõe incapacidade por parte do aluno. Apenas, como no exemplo do agente de trânsito acima citado, o professor, desprovido desses sinais de autoridade, dificilmente vai ser entendido e precisará explicitar esses conceitos por meio de broncas, gritos e atitudes descontroladas, o que acaba tumultuando ainda mais a aula. Esse é um assunto que podemos desenvolver ainda mais, mas que aqui me limito a apontá-lo de maneira geral, para uma maior reflexão, como havia proposto inicialmente.

Autor do artigo: Fernando Zanelatto Bodini